Sensações Virtuais

quarta-feira, outubro 25, 2006

Instinto sexual cinematograficamente fatal


Se alguma cidade tivesse que ser nomeada como a capital mundial do sexo, muito provavelmente Nova Iorque seria uma forte candidata. Um pouco de todas as alternativas de que o cardápio sexual humano é tão rico se pode encontrar nessa cidade maravilhosa cheia de encantos mil.

É sobre essa diversidade que trata o filme “Shortbus” (John Cameron Mitchell, 2006) que aborda a história de uma terapeuta sexual que não consegue atingir o orgasmo e das personagens com quem ela interage na sua procura do prazer. Entre estas encontra-se um casal de homens, um dos quais a trabalhar no seu filme de despedida suicida, uma dominatrix profissional que vive num espaço de armazenamento e que não consegue ter uma relação amorosa significativa e um voyeur que acompanha da sua janela do outro lado da rua a vida do casal gay.

Em filmes Europeus já fomos confrontados com cenas de sexo explícito. “Romance X” (Catherine Breillat, 1999) ou “Os idiotas” (Lars von Triers, 1998) são alguns exemplos, mais ou menos bem sucedidos da incorporação de cenas que alguns considerarão pornográficas em filmes que declaradamente não o são. Que um filme Norte-Americano o faça, isso sim é uma novidade digna de registro na Enciclopédia das Aberrações Cinematográficas, na lista dos Grandes Escândalos do Século XXI e de certa condenação e expiação eterna nas fogueiras da Inquisição das mentes conservadoras deste e do outro lado do Atlântico.

Pois bem, em “Shortbus” temos cenas de dominação sadomasoquista, um auto-felatio, orgias pansexuais, sem faltar um menage-a-trois gay, tudo com direito a imagens de penetrações e ejaculações, como qualquer apreciador de filmes para adultos exigiria.

Sem dúvida que mentes menos abertas e olhos menos habituados a estas exibições cinematográficas de sexo explícito poderão ficar chocados. O facto, porém, é que não percebemos porque é que isso não acontece à mais tempo em filmes chamados mainstream.

Ainda não foi assim hà tanto tempo que Paul Verhoeven, Michael Douglas e Sharon Stone se terão sentado à mesma mesa e conversado sobre as formas como poderiam esticar os limites do que era considerado aceitável num filme de Hollywood e incluir a imagem de um pénis em erecção (o de Douglas, que infelizmente nunca chegámos a ver) e de uma vagina em nu frontal (a de Stone, que apenas com muita imaginação e boa vontade conseguimos ver como deve de ser), entre outros mimos cinematográficos.

O facto é que estes parâmetros encolhem mais depressa do que esticam e continuamos com os mesmos censores a cortar as mesmas cenas nos filmes que tentam ir um pouco mais além…

Se afinal o sexo é um elemento tão importante da vida quanto o amor ou a guerra, por que é que ainda não podemos ver cenas de sexo real nos filmes a que assistimos? Ou, mesmo que não se vá ao limite a que Cameron Mitchell, Breillard ou Von Triers nos levam, que pelo menos sejam mais realistas do que as que por vezes somos forçados a assistir. Em algumas delas os actores nem chegam a tirar a roupa interior!

Lançamos aqui um repto. Que os filmes sejam tão ousados no sexo quanto são na violência, na nudez quanto na acção, na exploração erótica do imaginário humano quanto na exploração lamechas a puxar para a lágrima de sentimento barato. Consumidores de filmes, uni-vos e exigi! Afinal, o cliente tem sempre razão. Ou não?
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