Sensações Virtuais

segunda-feira, setembro 18, 2006

Solamente una vez...



Há certas coisas que valem pela sua originalidade. Acontecem uma vez apenas e nunca mais. Originais, irrepetíveis, inigualáveis. A fundação da Nacionalidade. A Expo 98. O 25 de Abril. Ou, num plano mais pessoal, a entrada para a escola, a primeira paixão, o nascimento do primeiro filho. Se estes e outros acontecimentos únicos nós costumamos lembrar com uma pontada de nostalgia ou até celebrá-los de forma festiva, outros que ocorrem na nossa vida, tendemos a esquecer.

Dentro destes, encontram-se os encontros sexuais fortuitos com pessoas com quem nunca mais iremos partilhar qualquer intimidade que vá além de eventualmente estar sentado na mesma mesa ou tão só cruzarmo-nos na rua com elas, se tanto.

Os Ingleses dão-lhe o nome pomposo de one night stands (encontros de uma noite), mas nem por isso têm que ser de noite. De resto, são conhecidos por ocorrerem em qualquer hora do dia (e obviamente da noite também) e em locais igualmente diversos. Nós, prosaicos Portugueses, tendemos a chamá-los de engates, mas não se pode dizer que seja uma designação muito apropriada, uma vez que um engate pode dar origem a algo mais substancial e uma one night stand é apenas isso mesmo: uma e nada mais.

Apesar de muitas vezes esquecidos, os engates de uma noite (iremos usar a versão curta – engates – assumindo que sabem do que estamos a falar) cumprem com uma importante função. Permitem descarregar tensões, aliviar o stress e até fazer festinhas ao ego, por saber que alguém, ainda que por um momento fugaz (e quiçá perturbado pelo álcool ou sabe-se lá por que outras substâncias que alteram o julgamento) nos achou atraentes e dignos do seu interesse erótico. Sem estes encontros esporádicos, sabe-se lá quanta energia sexual andaria por aí desperdiçada ou até canalizada para fins menos próprios!

Há quem tenha verdadeiras pós-graduações em engates. Para essas pessoas, mais do que um acontecimento esporádico que aconteceu numa noite de Sábado à noite, o engate é uma forma de arte, um estilo de vida. Têm a técnica, as capacidades, o saber-fazer. Muitos nomes feios são atribuídos a estas pessoas. Nós não as iremos julgar, mas tentar aprender com elas. Eis algumas informações que, de uma amostra de conveniência, nos foi possível obter sobre os engates:

1. Deve-se manter sempre a conversa (a anterior ao sexo, se bem que a posterior também não deve fugir à regra) num tom leve e superficial. Nada de falar sobre a negligência de que foram vítimas durante a infância, sobre a vossa ex-mulher alcoólica e muito menos sobre as fantásticas experiências que tiveram nas vossas vidas passadas (tal como descobriram em sessões de espiritismo ou em situações afins)!

2. Nada de olhos-no-olhos melosos ou dedinhos entrelaçados, não se vá transmitir mensagens ambíguas sobre o real propósito do encontro ou sobre o futuro da relação (que, sublinhamos, não deve existir).

3. Também não se deve cair no extremo oposto e alardear que não estão a procura de uma relação. Para bom entendedor, meia palavra basta e presume-se que ambos sabem para o que estão e o que se seguirá (é preciso referir outra vez? Nada!).

4. Os engates são momentos privilegiados para experimentar coisas que habitualmente não se fazem ao nível sexual com parceiros mais constantes, como seja usar uma linguagem mais vernácula do que a habitual ou experimentar um pouquinho de SM. A vantagem é que, como não se conhecem, o outro não vai pensar que nos estamos a passar.

5. Presumindo que se volta a encontrar a pessoa em contextos sociais ou que existem amigos em comum, deverá usar-se a máxima descrição para evitar constrangimentos de parte a parte. Evitar comentar com terceiros sobre o que a outra fez ou disse ou comentar a forma ruidosa como o outro atinge o clímax, e aí por diante.

6. Os estrangeiros são óptimos engates, porque em relação a estes sabe-se, com um elevado grau de segurança que a probabilidade de se voltarem a encontrar é bastante remota. Além disso, longe de casa, toda a gente está mais disponível para estas coisas.

Num aspecto, todos estão de acordo: a regra número um é nunca passar a noite em casa da pessoa que se engatou. Nada pior, garantiram-nos, do que ter que acordar de manhã e enfrentar, sem a almofada proporcionada pelo álcool, a cara remelosa do engate da noite anterior. E sobre o que falar?! E que desculpa dar em relação ao facto de nunca mais se querer ver a fronha (neste caso: a cara) do outro nem com uma plástica que os deixe semelhantes ao Bard Pitt ou à Angelina Jolie (dependendo das preferências)??? Por isso, acabado o serviço, nada como saltar da cama ou seu equivalente e sair com o máximo de ligeireza possível (habitualmente muito pouca dado as horas e as condições).

Mais uma vez, aqui também convém não cair no extremo oposto e sair de noite sem dizer nada. Um bilhetinho simpático (mas não em excesso!) será dos males o menor. Afinal não vamos querer acordar de um sono profundo o consorte com quem passámos breves momentos de prazer mas que agora ressona que nem um filme do Manuel de Oliveira.

Esperamos tê-los elucidado nestas artes tão importantes quanto desprezadas do engate fugaz. Em troca, esperamos que nos contem tudo tudo tudo sobre os vossos estratagemas para meter conversa e as vossas experiências mirabolantes com pessoas com quem conheceram o prazer e pouco mais (por vezes nem mesmo o nome, suas taradas e tarados!)

Aguardamos com expectativa!
Image Hosted by ImageShack.us